Construção da imagem da China moderna
A organização da nação através de planos quinquenais, atrelados a processos de aberturas, modernizações, manutenção do crescimento econômico ao ritmo e nas proporções realizadas na China, foram sempre acompanhadas sem necessariamente serem percebidas pelo Ocidente.
No início do século XXI, quando o país asiático entrou para a Organização Mundial do Comércio, as atenções concentraram-se nas adequações para a aprovação da China às regras deste sistema. Quando Beijing foi selecionada para sediar os Jogos Olímpicos também. No decorrer dos acontecimentos, surgiu uma nova classe, a classe média, uma nova configuração geográfica predominantemente urbana, uma revolução tecnológica e uma série de impactos socioculturais com alcance político-econômico, como o fim da política de apenas um filho.
A organização do agrupamento entre blocos de países expandiu para outros territórios, além da concentração entre os países do sudeste asiático, a China enfatizou a sua presença entre os países de língua portuguesa, lideram o BRICS (Brasil, Rússia, Índia e China e África do Sul).
A China espalhou-se pelo mundo seguindo a cartilha de regras de cada território, adicionando características próprias de funcionamento e entendimento chinês. Da mesma maneira fazem com dois sistemas para um único país, adotando a cartilha socialista na esfera política, aplicando o capitalismo no plano econômico. Instigam, entre os desafios precisam ainda de harmonizar as regras locais às transnacionais, flexibilizar a própria resistência gerada pelos embates cotidianos de existir como cidadão chinês nas esferas nacionais e internacionais. Precisam rir mais.
Os esforços de bilhões de dólares investidos desde o governo do presidente Hu Jintao para a promoção da língua e da cultura chinesa através, por exemplo, da implementação de Institutos Confúcio ao redor do mundo. Estes espaços têm vindo a ser acusados de engessamento, de servirem de células de propaganda do governo. Vários estão sendo fechados em universidades americanas sob esta alegação.
No que tange a percepção e consumo de produtos culturais, com exceção do mercado de games e e-sports, outras modalidades ainda não deslancharam na identificação e interesse da audiência estrangeira. A música, o cinema, as artes visuais, a literatura, a dança contemporânea são lacunas a serem preenchidas. Por hora e para o metié Ai Wei Wei, Yo Yo Ma quiçá.
O mesmo acontece em relação aos bens de consumo e, em geral, a toda produção com selo Made in China. Neste caso, ao contrário dos produtos culturais que sofrem pelo desconhecimento, a imagem associada dos mais diversos itens, inclusive os que envolvem tecnologia de ponta e mesmo os grandes projetos de infra-estrutura, não costumam transmitir boa reputação.
Entretanto, no sentido oposto, os chineses despontam em número cada vez maior na lista dos multimilionários da Forbes, no ranking de maiores consumidores no mercado de luxo e luxo digital, no índice de turismo internacional.
Absorvem, acompanham e digerem há tempos o Ocidente. Conhecem, desenvolvem-se, mesclam-se sem muito arriscar na construção autêntica da Imagem da China moderna. Estão envoltos pela característica do perfil conservador de Xi Jinping e, consequentemente, as diretrizes para a política de promoção cultural seguem a mesma linha.
Há ainda a imagem de Jack Ma, dono do Alibaba, para contrabalançar em afirmações menos ortodoxas da cartilha pragmática chinesa em opiniões pouco convencionais. Ele incentiva, por exemplo, a importância da criatividade. E, portanto, a responsabilidade em assumir pelos riscos dos acertos e erros dentro de uma cultura de “não perder a face”, sinônimo de desonra.
O desafio da construção da imagem da China moderna não passa propriamente pela barreira da língua ou pela cultura milenar, mas sim pela dificuldade em permitir-se pop, em compartilhar processos, expor-se ao ridículo, ser compreendida, sentir-se vulnerável ao mostrar-se inteira.