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Negociação para o envio de cules chineses em obra sobre primeira circum-navegação brasileira

October 14, 2020

Negociação para o envio de cules chineses em obra sobre primeira circum-navegação brasileira

O livro “Primeira circum-navegação brasileira e primeira missão do Brasil à China (1879)” passa também por Macau e relata os festejos do tricentenário do nascimento de Luís de Camões.

Já tinha sido promulgada, no Brasil, a Lei Eusébio de Queiroz, que proibia o tráfico de escravos, quando partiu a primeira missão diplomática brasileira para a China, em 1879. A escravatura tinha os dias contados e, num Brasil em ambiente pré-republicano, levantava-se agora a questão de quem iria substituir a mão-de-obra negra nas grandes lavouras do pais. A produção de café, com o negócio em expansão, procurava trabalho braçal.
“Para muitos, o trabalhador asiático dócil e barato era a opção mais segura. E mais: o chinês, se comparado ao imigrante europeu, tinha comprovada eficiência braçal, tendo em vista o que já havia feito em Cuba, Estados Unidos e Peru”, contam agora ao EXTRAMUROS os autores da obra “Primeira circum-navegação brasileira e primeira missão do Brasil à China (1879)”, Jeff Franco e Marli Cristina Scomazzon. E continuam: “Os partidários, sobretudo da colonização europeia, diziam que os chineses seriam novos escravos e alertavam contra a ‘mongolização’ do Brasil. Segundo estes, os chineses não eram a solução para os problemas do Brasil. Eram uma ameaça pois trariam a ‘degeneração’, vícios insidiosos como o do ópio, difundiriam a descrença pela fé católica e, em vez de serem os elementos intermediários entre a mão-de-obra africana e os imigrantes europeus, seriam apenas ‘novos escravos’”, referem ainda os autores.
Apesar da controversa “questão chinesa” – como ficou conhecida esta polémica que envolvia o envio dos trabalhadores chineses, também conhecidos como cules – a primeira missão diplomática brasileira à China foi aprovada. O investigador e a jornalista lembram que, de acordo com os ministros brasileiros que lideravam o empreedimento, o tratado assinado com a China, em 1880, tinha muitas imperfeições. “A corrente migratória chinesa não se concretizou principalmente pela proibição formal da China. A breve história da missão brasileira aponta para o facto de que uma vitória diplomática, em si, não garante sucesso nas relações exteriores”, concluem os autores, revelando ainda que, “em Macau, inclusive, o livro relata os festejos do tricentenário de nascimento de Camões, a gruta na qual ele escrevia e a boa acolhida dos macaenses à expedição”.
Macau foi, aliás, um porto intermediário no tráfico de cules. Estatísticas apontam para que, entre 1851 e 1874, mais de 2oo mil cules chineses tenham emigrado através do território para vários destinos no mundo, tendo a maioria como destino final Cuba, onde viviam em situação de quase escravatura.

“Escrevemos este livro com muito entusiasmo por recuperar um tema até então inédito, uma parte interessante da memória nacional”

Primeira circum-navegação brasileira

Na primeira parte da obra é contada a “tão arriscada viagem” de volta ao mundo onde seguia a missão diplomática, comandada pelo capitão-de-fragata Júlio César de Noronha e que durou 430 dias – 268 de viagem e 162 passados em portos. A bordo seguiam 197 homens – 22 oficiais, 126 marinheiros imperiais, 15 fogueiros e 21 soldados navais.
“Escrevemos este livro com muito entusiasmo por recuperar um tema até então inédito, uma parte interessante da memória nacional e também por ser uma história repleta de curiosidades”, lê-se num comunicado assinado pelos dois autores, que fizeram pesquisas em diversos arquivos brasileiros e de outros países para reunir documentos, fotografias e ilustrações para esta publicação de 360 páginas.
Marli Cristina Scomazzon e Jeff Franco são também co-autores dos livros A Caminho do Ouro – norte-americanos na Ilha de Santa Catarina (2015) e História Natural da Ilha de Santa Catarina: o códice de Noronha (2017).

Sobre a obra

Título

Primeira circum-navegação brasileira e primeira missão do Brasil à China (1879)

Autor

Marli Cristina Scomazzon e Jeff Franco

Ano

2020

Edição

Dois Por Quatro

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