Atitude chinesa para com o amor
Em livros preparatórios para obter o certificado de proficiência em mandarim ensinam de pronto que o primeiro a saber é “cuidar” ( 爱护 – ài hù) , um tipo de cuidado que é sinônimo de zelar, acalantar, e que este tipo de cuidar, por envolver amor, ( 爱-ài) é entendido como um bem valoroso e presente. Como exemplos apresentam o cuidado em relação ao tempo, no ser econômico em relação ao tempo dos outros e em se fazer o melhor uso dele, e o zelo de um amor tenro.
O cuidar do amor não deve ser confundido com o cuidar do “proteger” 保护 (bǎo hù), no sentido de defender a proteção dos direitos, e no dicionário está listado este tipo de cuidado imbuído na proteção dos direitos das mulheres e das crianças.
Para cuidar com amor (爱护 – ài hù), os caracteres são fragmentados em significante e significado, de modo que fique claro primeiro o que é o amor. Na ordem conceitual dos sinônimos consta que o amor, este sentimento profundo por alguém ou alguma coisa, começa pelo gostar, seguido pela admiração, afeição, respeito, apoio, afeto, fraternidade, devoção, bondade de coração, generosidade, para por fim experimentar um amor ardente.
Quando se atinge este ponto, os chineses se preparam para a proteção (护 – hù), de torná-lo inviolável, do preservar, nutrir, acompanhar, se posicionar a favor, guardar, minimizar os erros, se alinhar ou aninhar, assim como fazem as aves no movimento de ceder espaço por baixo de suas asas.
Até meados do século XIX, na cidade do Rio de Janeiro, hábitos, alusões e costumes de origem asiática, em especial da China e da Índia, foram conservados em maior proporção entre as mulheres, comparativamente aos homens cariocas, segundo consta nos relatos do pintor Édouard Manet por ocasião de sua visita à cidade em 1849.
Manet descrevia as brasileiras como “geralmente lindas, olhos e cabelos magnificamente negros, todas penteadas à moda chinesa a andarem nas ruas sem chapéu.”
Os usos e costumes orientais persistiam na Corte na lógica do modelo de sociedade patriarcal que prevalecia na China e também se manifestava no Rio.
A ocidentalização do Brasil ocorreria uma década mais tarde, sendo primeiro praticada entre homens para depois atingir as mulheres, descritas à época como próximas ao tipo das grandes recalcadas e segregadas do Oriente.
Dadas as devidas proporções sobre as suposições do que se é possível preservar com o passar do tempo, as cariocas poderiam – no que tange aos preparativos para obtenção do certificado de proficiência do entendimento sobre o cuidar do amor em chinês – estar mais aptas aos movimentos e atitudes do que em relação aos homens cariocas.