Rota das Letras: A obra de Lu Xun e de Sophia num festival com nova direcção
A poesia está em destaque nesta edição do Festival Literário de Macau – Rota das Letras. E evoca-se Lu Xun – o homem e a obra.
No ano em que se celebra o centenário do Movimento Quatro de Maio, a oitava edição do Rota das Letras leva-nos a revisitar este evento histórico, numa peça de teatro, numa exposição e numa sessão de debate que junta o dramaturgo de Hong Kong Claus Poon, a encenadora de Macau Lam Teng Teng, e o presidente da Associação de Críticos Literários de Macau, Zhu Shou Tong, para falar de Lu Xun, o pai da literatura chinesa moderna.
A 4 de Maio de 1919, Pequim foi palco de uma série de manifestações contra concessões feitas pelo governo chinês ao Japão. O evento marcou também o nascimento do Movimento da Nova Literatura, momento de reflexão de intelectuais chineses sobre a cultura tradicional à luz de conceitos como Democracia e Ciência, para impedir a decadência da China. Um dos mentores deste movimento é precisamente Lu Xun, pseudónimo literário de Zhou Shuren.
Ao longo do festival literário, que este ano se realiza entre 15 a 24 de Março e que tem como tema principal a poesia, vai estar em Macau o poeta Huang Fan, nascido na província de Hubei, em 1963, e conhecido por abordar assuntos contemporâneos com recurso ao sarcasmo e a um lirismo negro. Outros nomes confirmados da China: Jidi Majia, vice-presidente da Associação de Escritores da China, Shu Yu, fundadora do Festival Internacional de Poesia Grand Canal de Hangzhou, e Lu Weipung, e editor da publicação Chinese and Western Poetry Journal, vão marcar presença no território.
Toda a poesia
E há outros aniversários a lembrar. Os 200 anos do nascimento de grandes nomes da poesia norte-americana, como é o caso de Walt Whitman e Herman Melville, e os cem anos de Sophia de Mello Breyner Andersen. Para falar da poetisa estará em Macau o filho, Miguel Sousa Tavares. O escritor e jornalista português participa em sessões como “O percurso literário de Sophia” e “Poeta, Poema, Poesia – Do Acto de Escrita ao Corpus Literário”.
Também o poeta e ensaísta português Jorge de Sena e o macaense Adé dos Santos Ferreira, que escreveu poesia no crioulo de Macau, o Patuá, vão ser homenageados durante o evento, em sessões de poesia, debates, projecção de filmes, performances e exposições.
Destaque ainda para a presença em Macau do actor português Pedro Lamares, que traz “Ode Marítima”, espectáculo baseado no poema homónimo de Álvaro de Campos.
Dos países de expressão portuguesa marcam presença no território, entre outros, José Luís Tavares (Cabo Verde), Adélia Carvalho, José Luís Peixoto (Portugal), Hirondina Joshua (Moçambique), Gisela Casimiro (Guiné-Bissau) e Eduardo Pacheco (Angola).
“Hoje, na China, em Macau e na Lusofonia, existe uma intensa produção poética, obra de poetas jovens e de outros já consagrados, que retendemos nesta edição do Rota das Letras trazer às comunidades locais, disponibilizando largamente poesia sob várias formas, sem com isto descurarmos outros modos de expressão literária como o romance, o conto ou o teatro, que igualmente encontram lugar nesta edição do festival”, lê-se num comunicado da organização do Rota das Letras.
Macau vai apresentar por estes dias um novo autor. O advogado Luís Mesquita de Melo lança “A Humidade dos Dias”, obra com capa original do artista Konstantin Bessmertny. A sessão está marcada para 22 de Março na Livraria Portuguesa.
E, como sempre, a música também se associa ao evento. Salvador Sobral, vencedor do Festival Eurovisão da Canção em 2017, actua pela primeira vez em Macau. O concerto está agendado para dia 17 de março às nove da noite no Teatro Broadway.
A oitava edição do evento foi assumida por uma direcção renovada – juntaram-se ao director Ricardo Pinto, o jornalista e escritor Carlos Morais José (director de programação) e a artista plástica Alice Kok (directora executiva). Hélder Beja, co-fundador do evento, abandonou o cargo no ano passado, na sequência do cancelamento da presença dos escritores Jung Chang, Suki Kim e James Church. Na altura a direcção do festival foi avisada, oficiosamente, que a presença destes autores não era oportuna em Macau.