2018 – Cão em Xangô and deservedly so
Viramos fortuna no som do oito (八 bā). Antes disso, ainda dia nos relógios que trazem as datas, 31 de dezembro em Rio de quase janeiro. No último dia do ano vi pela primeira vez a pressa carioca, majoritariamente em branca e amarela, cores da superstição para a virada do ano em paz e em fortuna. A celebrada despedida de 2017 veio em tamanho proporcional à ânsia pelo novo. Não faltou pular as sete ondas, nem jogar flores ao mar para Iemenjá, parece mesmo que não faltou ninguém, nem bater recordes para a queima de fogos de artifício em Copacabana, já que estiveram presentes dois milhões e 400 mil pessoas.
Cidades turísticas possuem a característica de oferecer superlativos. Oferta-nos a chance de testar nossa civilidade ao mesmo tempo em que distribui aleatoriamente reações alheias de contemplação, risos frouxos e toda a sorte de manifestações efusivas. Entre os daqui e os que aqui estão um ponto de fusão. A do réveillon veio em numeração via contagem regressiva dos segundos para a transição. E assim de pronto em 2018, regidos seremos pelo Cão a chegar na presença da entidade Orixá de Xangô and deservedly so.
As nuances do ano tendem a ser encarnadas em vermelho, a cor da alegria para os chineses, tonalidade associada ao fogo, vulcão, raios e trovões relacionadas ao orixá. Virão juntos Xangô e o cão de terra em parcimônia, estabelecendo o protagonismo da cor marrom. A paleta de cores favoráveis ao ano inclui ainda o branco, laranja e as cores metálicas.
Xangô é filho de Iemanjá e Oranian, um dos mais cultuados no Brasil, considerado o grande guardião da justiça, assim como o cão. Além do senso de justiça, ambos se destacam pela lealdade e certo conservadorismo. Para o ano é esperado então esta tríade como eixo principal de valores.
Paradoxos, momentos de rosnadas mais raivosas graças ao embate entre o apego aos valores conservadores e, por outro lado, a chegada de mudanças não convencionais, porém, eficientes. Particularmente celebro com entusiasmo a era de maior influência chinesa, ou a maior presença oriental no cenário mundial, em detrimento ao espaço até então ocupado pelos EUA.
O ano carrega energia masculina (yang), ligada à força, ao ímpeto e ao pensamento lógico e racional. Em oposição, por exemplo, ao levante da potência feminista. Dores e delícias, felicidade e discórdia, tudo ao mesmo tempo. Regados pela harmonia na vida familiar, patriotismo, a fidelidade constante a qualquer causa eleita e o senso de justiça que tende a favorecer o lado mais fraco. Liberdade e igualdade serão advogadas pela nobre influência de cão em Xangô.
Passaremos a ser mais idealistas em nossas concepções, menos materialistas graças à realização de ações solidárias, ou pelo envolvimento em projetos meritórios. A tendência é de sermos mais ponderados. Será um período ideal para fazermos uma reavaliação dos nossos valores, para o aprimoramento de nossas virtudes e para o combate à tirania e opressão.
A firmeza e a força do ano de cão em Xangô provocarão conflitos, revoluções e rebeliões de todos os tipos que serão acalmadas pelo bom senso e generosidade. Teremos disposição para mostrar um coração mais magnânimo do que habitualmente. Nossas intenções tendem a ser mais íntegras, há predisposição para agirmos de boa fé. No caminho do bem, e agindo de forma honesta, o ano e a vida tendem a ser mais auspiciosos.
Em tempo, a lealdade, um dos princípios centrais das previsões para o ano. Lealdade se escreve assim em mandarim: 忠诚 (zhōngchéng). Me parece bonito que a lealdade para os chineses se apresente colocando ao centro um coração (心) honesto. São mesmo poéticos.
Para todos um ano auspicioso! 恭喜发财! A começar ou ainda a estar por iniciar já que na China o cão só deve chegar no dia 16 de fevereiro.