Zhang Kechun: Ao longo do rio Amarelo
Inspirado pelo livro “Rios do Norte” ( 北方的河) de Zhang Chengzhi (张承志), o fotógrafo Zhang Kechun (张克纯) parte numa viagem de dois anos pelas margens do rio Amarelo, o maior rio do Norte da China, que deve o nome às águas carregadas de sedimento. Nesta aventura, que na etapa final é feita de bicicleta, o artista chinês regista com uma câmara de grande formato os efeitos da modernização ao longo do rio, também conhecido como Huang He (黄河). Zhang vê beleza na destruição e encontra-se com a solidão onde antes existiu glória – diz-se que foi na bacia deste rio que a civilização chinesa começou. Fábricas, construções inacabadas, os efeitos devastadores das cheias e a tímida presença humana surgem num retrato a tons beige, cores de meia-estação, que mais parecem evocar sonhos, com cenas, por vezes, absurdas.
Sobre a série “O Rio Amarelo”, o autor escreveu:
“As montanhas e os rios são muito importantes para o povo chinês. Neste país, há uma consciência cultural que diz que as montanhas são ‘virtuosas’ e os rios são ‘morais’.
A ideia deste projecto foi inspirada pela leitura do livro “Rios do Norte” de Zhang Chengzhi. O livro foi escrito num fluxo de consciência e a história segue o percurso de vários rios que atravessam a China. Atraído pelo poder das palavras desta obra, decidi caminhar ao longo do Rio Amarelo para encontrar a raiz da minha alma. Pelo caminho, o fluxo tranquilo da minha consciência foi inundado por pensamentos frenéticos, uma corrente incessante de realidade. Senti-me profundamente pessimista.
No entanto, sendo um vasto país de longa história, a China terá sempre um futuro brilhante. Existe o que comer, existe o poder da criação para cultivar cidadãos fortes. Deste ponto de vista, parece-me, o futuro é optimista.
Numa tentativa de equilibrar estes dois lados, o meu novo trabalho explora as paisagens da China, capturando a ecologia dos seus magníficos fenómenos naturais. As figuras humanas minúsculas, insignificantes quando comparadas às vastas formas naturais, são inspiradas na tradição artística chinesa. O meu objetivo é criar um ponto de contacto actual para o nosso olhar contemporâneo e sociologicamente preocupado”.
Zhang Kechun nasceu em 1980, em Bazhong, na província chinesa de Sichuan. Com interesse pela pintura desde pequeno, o artista formou-se em Design, em Chengdu, e só mais tarde seguiu fotografia. Zhang venceu vários prémios na área fotográfica, como o National Geographic Picks Global Prize, em 2008, e expôs em diferentes festivais e mostras – Les Rencontres d’Arles (França) e a CAFAM-Future Exhibition (Hong Kong) são alguns exemplos.
A apresentação desta selecção de fotografias resulta de uma colaboração mensal com o Photography of China, plataforma que olha para a China de várias perspectivas e pela lente de diferentes fotógrafos.