Se muito do trabalho feito pelo colectivo artístico chinês East Village é hoje conhecido, deve-se ao fotógrafo Rong Rong (Zhangzhou, província de Fujian) que, no início dos anos 90 do século passado, documentou o dia-a-dia desta comunidade de artistas num bairro nos subúrbios de Pequim. A East Village foi criada em 1993, na ressaca do massacre de Tiananmen, e ocupa hoje um lugar central na história do desenvolvimento da arte contemporânea chinesa.

Só em 1999, Rong Rong conheceu Inri (Kanagawa, Japão), fotógrafa, futura mulher e parceira de trabalho. Numa entrevista à China Underground, o artista fala desse momento:

“Conhecemo-nos por acaso. Foi na minha primeira viagem a Tóquio, onde tinha uma exposição. Quando a inauguração estava quase a acabar, a Inri estava a olhar para o meu trabalho. Observou a minha série ‘Casamentos’ durante muito tempo. Ela queria comunicar comigo, mas falávamos línguas diferentes e, por isso, escreveu uns caracteres chineses. Fiquei tão surpreendido com os comentários dela. Foi como se tivesse lido o meu pensamento. Combinámos um encontro no dia seguinte e mostrou-me as fotografias que fazia. O trabalho e a pessoa estavam conectadas, porque o trabalho expressava os seus pensamentos mais íntimos. Sendo um crente na fotografia, eu era um explorador perdido à procura de um caminho. Naquele momento, senti que [o caminho] estava diante dos meus olhos e que eu tinha encontrado a pessoa com quem queria fazer esta viagem”.

Rong Rong e Inri ainda viveram em Liulitun, mas também este bairro de Pequim acabaria por ter o mesmo destino da comunidade East Village: a demolição. Em Junho de 2007, o casal fundou o Centro Artístico de Fotografia “Three Shadows”, o primeiro centro independente dedicado exclusivamente à fotografia e à vídeo arte no país. Foi o artista dissidente Ai Wei Wei que desenhou o espaço de 4600 metros quadrados, localizado na vila artística de Caochangdi, na capital chinesa.

Nesta seleção de fotografias de Rong Rong e Inri, que apresentamos em colaboração com a Photography of China (POC), podemos acompanhar um pouco desta viagem da dupla sino-japonesa. É um trabalho que, como escreve o POC, “revela um mundo íntimo na ligação às transformações socioeconómicas da China”.

Pode ficar a conhecer aqui mais sobre a Photography of China, uma plataforma que olha para a China pela lente de diferentes fotógrafos.