Wang Qiuhang: auto-retratos dos tempos da Revolução Cultural
Ser soldado e lutar pelo país. Sonhos de Wang Qiuhang que acabaram desfeitos pela revolução que o próprio queria servir. Nascido em Hangzhou, capital da província de Zhejiang, em 1949, este fotógrafo chinês cresceu no seio de uma família de altos funcionários do governo. Da sua infância privilegiada conta-se que foi uma das crianças escolhidas para dar as boas-vindas e entregar flores ao líder norte-coreano Kim Il-sung durante uma visita oficial à China.
Com Mao Zedong no poder e a campanha de perseguição de intelectuais contra-revolucionários em curso, o pai de Wang foi acusado de “traição”, acabando por suicidar-se. O nome da família foi inscrito na lista negra do partido e Wang Qiuhang viu-se então privado do sonho de lutar ao lado do Exército de Libertação do Povo. “Depois de todas as portas do futuro se fecharem, finalmente encontrei outro tipo de amor: amor-próprio ou narcisismo. Apesar de nessa altura a sociedade desprezar o narcisismo, agarrei-me a isso para não me afundar”, contou o fotógrafo ao Photography of China (POC), portal em língua inglesa que dá a conhecer vários nomes da fotografia na China.
Enquanto a China defendia o poder do colectivo, Wang encontrou-se no individualismo. Um acto subversivo que celebrava com uma máquina fotográfica, comprada em segunda mão por cinco yuan. Foi assim também que se aproximou dos campos de batalha. Em 1969, durante o conflito fronteiriço sino-soviético, Wang liderou um grupo de homens na construção de uma série de túneis na província de Heilongjiang, no Nordeste da China. Aí criou uma série fotográfica inspirada no filme “Batalha da Montanha Shanganling“, que podemos ver entre esta série de fotografias seleccionadas.
A apresentação desta selecção de fotografias, intitulada de “1966-1976 Cultural Revolution Selfies“, resulta de uma colaboração mensal com o POC.