Ilustradora sino-espanhola debate em Pequim imigração chinesa na Europa
Quan Zhou Wu nasceu na Andaluzia e é uma das convidadas da quarta edição do Festival Literário Internacional EU-China.
“Perguntam-me pela China e eu respondo: ‘Eu sei lá, se sou andaluza”. Numa entrevista ao Verne, website do jornal El País, foi assim que a ilustradora sino-espanhola Quan Zhou Wu falou sobre a dificuldade que é equilibrar-se entre mundos, ou entre dois países distantes, como são Espanha e China.
Filha de pais chineses, nascida em Algeciras (Cádiz), a jovem autora é uma das convidadas da quarta edição do Festival Literário Internacional EU-China, que se divide este ano entre Pequim, Cantão e Shenzhen. Na sessão “A história de uma mulher chinesa nascida em Espanha”, a ter lugar já amanhã na livraria CITIC, na capital chinesa, Quan vai reflectir sobre a “realidade agridoce de viver entre dois oceanos”, como escreve a organização do festival numa introdução ao evento.
“Já alguma vez pensaste como vivem os chineses emigrantes? Como é que se sentem os filhos ao crescer? Sentem-se chineses? Europeus? Sentem-se em casa? Ou perdidos?”, acrescenta ainda a delegação da União Europeia para a China, que está à frente do festival.
Enquanto ilustradora e autora, Quan Zhou Wu tem trabalhado frequentemente o tema da imigração chinesa em Espanha. “Gazpacho Agridulce“, novela gráfica publicada em 2015, é um retrato autobiográfico. “O tom cómico dominante não impede Quan de abordar a amizade inter-racial, a crise identitária, a perpetuação do apelido familiar, a tensão entre o binómio integração e sobrevivência da cultura chinesa, e sim, também a razão pela qual se encontram tantas crianças chinesas nas lojas chinesas”, revela uma nota introdutória à obra.
A esta novela gráfica seguiu-se “Andaluchinas por el mundo. Gazpacho agridulce 2“, lançada em 2017 (ver galeria) e que se centra no momento em que a autora saiu de casa para prosseguir os estudos universitários em Madrid.
Além de ilustradora, Quan Zhou Wu está também envolvida em acções contra o racismo e participa numa série de eventos para promover o entendimento sobre a cultura chinesa e a vida dos filhos dos imigrantes em Espanha.
“O nosso festival abre espaço para o diálogo”
Perto de 50 escritores, académicos e ilustradores da China e dos 28 estados membros da União Europeia foram convidados este ano para participar na quarta edição do festival, que teve início a 17 de Maio e decorre até 5 de Junho. “O sucesso das edições anteriores do festival só nos encorajou a fazer crescer o evento e a convidar desta vez 28 escritores excepcionais de cada estado-membro da União Europeia. Eles representam diferentes culturas, tradições e estilos literários. Escrevem para crianças e adultos, alguns já foram traduzidos para chinês. O nosso festival abre espaço para o diálogo”, sublinhou Nicolas Chapuis, embaixador da União Europeia na China.
De Portugal foi convidada Ana Filomena Amaral, historiadora, tradutora e autora de 11 livros, entre ficção e investigação histórica, da qual se destacam “Uma porta abria-se a fogo” (1989), “Pão e água” (2011) e “O Diretor” (2018).
A escritora dinamarquesa Leonora Christina Skov, o autor de livros infantis e de ficção para adolescentes italiano, Pierdomenico Baccalaria, e a argumentista e romancista da República Checa Radka Trestikova são alguns dos convidados europeus.
Do lado chinês surgem nomes como Su Tong, presidente da Associação de Escritores de Jiangsu e responsável por uma vasta obra literária, incluindo “A Minha Vida Enquanto Imperador” (Cavalo de Ferro, 2007), e ainda Lijia Zhang, autora de “Socialism is great!” que versa sobre o período em que trabalhou numa fábrica de mísseis, e de “Lotus” sobre a prostituição na China contemporânea.
Pode ler aqui o programa completo do festival.
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