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A beleza de Yang Guifei e a mágoa de Xuanzong

February 9, 2017

A beleza de Yang Guifei e a mágoa de Xuanzong

Já falámos sobre a história que está por trás do poema que imortalizou Bai Juyi, Chang Hen Ge (长恨歌), que António Graça de Abreu traduziu como “Canto do Remorso Perpétuo”. Vamos agora analisá-lo mais a fundo.

Os versos de Bai Juyi choraram a mágoa do imperador enamorado e exaltaram a beleza de Yang Guifei:

“Seu cabelo como nuvens, seu rosto como uma flor,
um alfinete, um lírio de oiro enfeitando as tranças.”

Naqueles anos de mágoa perpétua, o imperador Xuanzong aguarda sem sucesso, que a amada Yang Guifei, uma noite, lhe apareça em sonhos:

“Uma infindável distância separa vivos e mortos,
desaparecida há alguns anos, jamais ela o visitara em sonhos.”

É então que surge no Palácio um monge, capaz de invocar espíritos, uma esperança para dar nova vida ao definhado imperador. O monge parte então em busca dos mundos impossíveis, chegando finalmente a uma montanha fantástica “suspensa no vazio, sobre o mar, inacessível a todos os mortais”.
É aí que habita, segundo o poema, “alguém chamado Essência Puríssima, bela como uma flor, a pele branca como a neve, talvez ela”.

E o poema imortal de Bai Juyi remata assim:

“Ao volver os olhos e tentar adivinhar o mundo dos homens,
ela não distingue mais Chang’an, apenas poeira e névoa.
Como testemunho do seu amor perene e profundo,
Pede ao mensageiro que leve o cofre cravejado de pedras preciosas,
Que entregue ao seu senhor o alfinete de ouro,
Ela conservará sempre a tampinha do cofre, uma haste do alfinete.
‘Nossos corações nobres, preciosos como ouro e jóias,
no céu, ou entre os homens, um dia o inevitável reencontro.’
Um ultimo pedido ao mago na hora da partida:
‘Recorda ao meu príncipe o juramento secreto que fizemos outrora,
no sétimo dia da sétima Sétima Lua, no pavilhão da Vida Eterna,
longe de todos, a meio da noite, trocámos nossa jura de amor,
prometemos, no céu, voar como duas aves com umas únicas asas,
na terra, ser dois ramos entrelaçados de uma só árvore.’
Céu e terra estender-se-ão por muitos, muitos séculos,
Consumar-se-á um dia seu inevitável fim. Apenas este lamento, este remorso perpétuo, eterno.”

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