Adou: Na China remota, enquanto fotógrafo e objecto da fotografia
Na série “Salamada”, Adou 阿斗 (1973) fotografa os Yi, minoria étnica que na China habita sobretudo as zonas rurais montanhosas de Sichuan. Já em “Adou”, trabalho que baptizou com o próprio nome, a presença do artista é perceptível – de corpo presente ou não – naquele que se entende ser um ensaio sobre o fotógrafo e o objecto da fotografia. Como disse Adou uma vez: “Não há diferença entre tirar uma fotografia aos outros ou a nós próprios. A câmara pode estar apontada para a frente, mas quer queiramos ou não, revela-te sempre a ti”.
A apresentação desta selecção de fotografias no Extramuros resulta de uma colaboração com o Photography of China (POC), portal que olha para a China pela lente de vários fotógrafos. Sobre o artista, vale a pena ler a seguinte nota biográfica, disponível no website do POC, e que traduzimos aqui para português: “Se o mundo de hoje está saturado de imagens digitais, o fotógrafo de Sichuan Adou 阿斗 (nascido em 1973) prefere ignorar esta mudança de paradigma e usar deliberadamente a fotografia analógica. Adou está à frente e atrás da câmara. Ele viaja pelas províncias chineses em busca da introspecção, optimismo, de configurar a realidade numa nova dimensão. Em Samalada (2006), apresenta visões atemporais da sua terra natal, e na série Adou explora as províncias do interior, como Gansu, Mongólia, Qinghai, entre outras. Estas fotografias evocam o encontro do homem com a natureza. O artista joga com os efeitos da textura de terras desertas, as ondas causadas por reacções químicas, e recorre preferencialmente a ângulos expressionistas, que parecem criar um ambiente quase místico. As fotografias também demonstram que o corpo e a performance parecem continuar no centro das coisas na arte contemporânea chinesa.”